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Estás por ti. Para ti. Só contigo.



Sete elementos do Clã 16 receberam, a 10 de novembro, uma mensagem urgente e muito clara: estavam por eles, para eles, só com eles. Uma epidemia afetava o concelho de Vila Franca de Xira e estava a propagar-se muito rapidamente pelas zonas circundantes.

Eles tinham sido avisados a tempo. Confusos e preocupados, conseguiram fugir, deixando tudo para trás. Esperava- os um Campo de Emergência situado no Forte de Alqueidão, concelho de Sobral de Monte Agraço, que, durante pouco mais de 24 horas, os acolheu. O espaço estava equipado com bolhas individuais. Lugares seguros. Portos de abrigo. Refúgios que os deixavam fugir (e esquecer) tudo o que estava a acontecer.


Depois de feito o check in, receberam o seu kit de sobrevivência: com as regras de campo, um diário de bordo e uma máscara. Depressa perceberam que, dali para a frente, os desafios não iam ser fáceis. Não podiam confiar em ninguém. Em determinado momento, nem neles próprios. Estavam isolados. Do grupo. Da família. Do mundo.

Sabiam que qualquer falha os podia expulsar do único sítio onde, por agora, estavam seguros. E, por isso, preferiram usar a máscara para sempre, ao invés de a colocar apenas durante o som de uma sirene. Foram convidados a traçar um mapa do seu trajeto pessoal, desde a infância até hoje. Uma espécie de estória sobre o que eram. Naquele dia, naquele momento. Pensaram nas montanhas que já tinham atravessado, nas estradas que já tinham cruzado, nos bosques em que já se tinham perdido. Refletiram sobre os desertos que já enfrentaram, sobre os rios onde beberam água e os indícios pelos quais se guiaram até ali. Fizeram uma introspeção individual. Completa e exaustiva. Onde calcularam os quilómetros percorridos, lembraram as bússolas orientadas e os nortes verdadeiramente alcançados.

E depois? Depois, foram informados que a epidemia tinha avançado consideravelmente e que eles precisavam de sonhar. Porque era possível até quando eles achassem que já era completamente impossível.

Num compromisso individual, escreveram tudo o que queriam fazer quando escapassem àquela bolha, que já os começava a sufocar. Riscaram e voltaram a rescrever. Fizeram uma bucket list e começaram a desesperar pelo momento em que podiam ser, novamente, livres. Redirecionaram os seus nortes e deram um rumo à rosa do vento de cada um. Ou, pelo menos, sonharam (muito) com isso.

Ao jantar, receberam um novo kit. Com uma acendalha, aqueceram a sua comida. O dia estava a chegar ao fim. Tinha sido longo. Duro. Estava frio e quase que ainda não tinha parado de chover. Faltou-lhes um abraço, mas não lhes faltava esperança. Voltaram a refletir, registar, rascunhar. Rezaram. Agradeceram. Descansaram.

O dia seguinte ainda acordou mais cinzento. Mas foi com o som ensurdecedor de uma sirene que acordaram. Debaixo de uma chuva torrencial perceberam que aquele já não era um Campo seguro. A máscara? Onde estava a máscara? Só estavam seguros se tivessem a máscara.

Foi com a máscara colocada que regressaram a casa, depois de uma experiência intensa e fora dos padrões comuns. Partiram em silêncio. Era assustador. Foi de máscara colocada que partilharam. O que sentiram, o que desejaram, o que refletiram. E foi juntos, pela primeira vez em 24 horas, que puderam voltar a respirar. Livremente. Sem saberem o que ainda está para vir

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